Existe qualquer coisa que sempre achei fascinante em histórias e filmes que envolvam manipulação, fenómenos e/ou viagens no tempo. Sem dúvida que a bizarria das situações geralmente associadas com este tipo de histórias, é um factor relevante para o meu sistemático fascínio por elas, mas por si só não chega para justificar o meu nível de entusiasmo. Existe qualquer coisa que suspeito é também muito apelativo a muito mais gente. É o leque de possibilidades que este tipo de viagem abre, se fosse possível efectuar. Logo à partida, quem é que nunca desejou regressar ao passado e mudar alguma acção ou decisão que tenha tomado? É um desejo egoísta mas perfeitamente compreensivel e quase universal à experiência humana. Mas mesmo pondo de lado estes desejos mais viscerais de mudar estas fontes de remorsos, temos ainda a simples curiosidade como chamariz. Desde pequeno que sempre sonhei na possibilidade de testemunhar eventos passados e descortinar o que o futuro reserva para a espécie humana. É a razão pela qual sempre tive uma queda por filmes de período e de ficção científica, que não são senão pequenas e limitadas viagens no tempo especulativas.
Este é um tema que já estimula a imaginação humano há muito, muito tempo. Os primeiros textos que abordam fenómenos temporais datam de 700 anos A.C., precisamente com descrição do que parece ser o fenómeno de dilatação temporal, em que o protagonista se vê transportado para o futuro. Curiosamente, o tema de viagem para o passado é muito mais moderno comparativamente.
De qualquer forma, o que me impeliu a pegar novamente neste blog e elaborar este post foi o visionamento recente do filme Predestination dos irmãos Spierig. 'Passado dos cornos' seria uma forma fácil e sucinta de descrever o filme. Se alguém tiver problemas com paradoxos temporais nas histórias, então este não é definitivamente um filme para ele. É um caso extremo de um tipo de paradoxo temporal, pelo que tenho a certeza muitos torcerão o nariz ao visionarem o filme. Pela minha parte adorei-o, e isso levou-me a rever alguns filmes similares, e de repente verifiquei que tinha muito mais filmes deste género do que pensava na minha videoteca pessoal, pelo que me lembrei de elaborar esta lista de recomendações para quem ache o tema interessante.
Antes de publicar a lista algumas considerações:
- Esta lista não é exaustiva. O meu objectivo é puramente apontar alguns filmes que eventualmente o leitor não conhece ou nunca viu e quem sabe despoletar o interesse em finalmente o fazer.
- Não tenho pretensões de ter visto todos os filmes deste género, pelo que a lista poderá apresentar lacunas de filmes marcantes ou de qualidade.
- A lista é completamente subjectiva. Também não tenho pretensões de bom gosto, pelo que alguns filmes poderão não ser exemplos brilhantes de qualidade cinematográfica. São apenas filmes que de uma maneira outra gostei, ficaram-me na memória, ou simplesmento penso que outra pessoa interessada no tema poderá apreciar. Ficam de fora outros exemplos do tema simplesmente porque eu não gostei dos filmes de que fazem parte, pelo que honestamente não os posso recomendar.
- A lista também é aleatória. Não segue uma ordenação por preferência ou qualidade.
- É possivel a existência de spoilers. Vou tentar evitar a inclusão dos ditos na descrição e comentários que faça aos filmes, ou pelo menos avisar com antecedência, mas não é fácil evitá-los completamente neste caso A simples inclusão de um filme nesta lista é já nalguns casos um spoiler.
- A lista não inclui séries de televisão. Existem várias, algumas com multiplos episódios que abordam esta temática e que sem dúvida merecem a sua atenção, mas o tempo necessário para as rever e indicar os episódios relevantes torna-o impossivel para mim de momento. No entanto não queria deixar de mencionar algumas séries - Doctor Who, Quantum Leap, Seven Days, Star Trek (praticamente todas as temporadas tiveram episódios desta natureza), Odyssey 5, Outlander, The Flash, Fringe, Babylon 5, Terra Nova, SG1, Heroes.
Gostaria ainda de tecer algumas considerações sobre alguns termos que usarei na descrição dos filmes. Não é necessária a sua leitura mas é informação que acho interessante e que enriquece a experiência no visionamento e demonstra a diversidade no género - as viagens no tempo não são todas iguais:
Efeito Borboleta - Termo relacionado com a Teoria do Caos, usado pela primeira vez no campo da metereologia mas aplicável em muitas outras áreas. O seu nome vem da metáfora ilustrativa usada do bater das asas de uma borboleta causarem um furacão. Essencialmente, o que diz é que pequenas alterações de condições iniciais, à primeira vista inconsequentes, podem originar alterações muito grandes mais tarde, as quais eram completamente imprevisiveis.
É um termo que se pode aplicar em outros tipos de filme (um dos primeiros exemplos, deste efeito em filme, e também um dos melhores filmes de sempre é no It's a Wonderful Life), mas como se torna óbvio, este fenómeno deve ser tido sempre em conta quando falamos de viagens no tempo e dos perigos de se alterar eventos passados por mais ínfimos e insignificantes que pareçam à primeira vista. Outros bons exemplos deste efeito em filme são o Run Lola Run, que não entra na lista simplesmente porque não o vejo como um filme temático deste género, e o Frequency, este sim presente na lista. Neste último a simples presença da mãe do protagonista no hospital onde trabalha, devido a alteração dos eventos que levavam à morte do marido num passado diferente, tem consequências terríveis que eram completamente imprevisíveis.
Dilatação Temporal - É um efeito real explicado pela Teoria da Relatividade. É a diferença de tempo decorrido entre dois eventos quando medido por dois observadores que se movem a velocidades relativas diferentes ou em gravidades distintas. Por outras palavras, a velocidade relativa e a gravidade tornam a passagem do tempo mais lenta à medida que estas aumentam. É a razão pela qual os relógios dos satélites GPS têm que compensar o pequeno diferencial com os relógios na Terra. O exemplo mais usado para ilustrar isto é do astronauta a viajar a uma velocidade perto da velocidade da luz (98%) que regressa à Terra após um ano de viagem. Ele terá envelhecido um ano mas terão decorrido cinco anos na Terra.
Não é um fenómeno estritamente de viagem no tempo, mas sim de viagem no espaço-tempo.
Temos exemplos de dilatação temporal em filmes como Interstellar e Planet of the Apes.
Temos exemplos de dilatação temporal em filmes como Interstellar e Planet of the Apes.
Paradoxos Temporais - São contradicções lógicas que podem ocorrer quando a viagem no tempo ao passado se realiza. São de dois tipos:
Parodoxo do Avô - Basicamente, qualquer acção que elimina a causa ou os meios que permitam a viagem no tempo. O nome deste paradoxo vem da primeira descrição do mesmo num conto de ficção científica em que o viajante do tempo volta ao passado e mata o seu avô antes deste conhecer a sua avó, pelo que este nunca teria nascido, nunca teria voltado no tempo e nunca teria portanto morto o seu avô. O universo entra num loop infinito e o tempo não consegue avançar a partir deste ponto.
Este paradoxo pode no entanto ser 'resolvido' se considerarmos a mecânica quântica e a existência e criação de univeros paralelos ou divergentes. Ténicamente deixamos de ter uma viagem no tempo e temos sim uma viagem interdimensional.
Paradoxo Ontológico ou de Predestinação - Este paradoxo é criado quando um evento futuro é a causa de um evento no passado por causa de uma viagem no tempo, e este por sua vez é responsável pelo evento futuro. Forma-se assim um loop causal sem princípio nem fim discernivel. Diz-se portanto que os eventos estavam simplesmentes predestinados a acontecer. Um exemplo deste paradoxo num filme é The Terminator onde o líder da resistência humana contra os robots dá ao protagonista uma fotografia da sua mãe, o que origina que este se ofereça como voluntário para viajar ao passado sendo responsável por uma série de eventos que leva à origem da fotografia.
De notar que este paradoxo é no entanto consistente com Princípio de Auto-Consistência de Novikov.
Princípio de Auto-Consistência de Novikov e expansão - Assumindo que existe apenas uma linha temporal acessível (excluindo portanto a possibilidade de universos paralelos), este diz que um evento que possa originar um paradoxo ou mudança do passado tem uma possibilidade zero de acontecer, ou seja, é impossivel a criação de paradoxos temporais. Por outras palavras, qualquer acção que o viajante do tempo faça, é uma acção que já faz parte da história e não pode fazer nada que provoque a impossibilidade da viagem no tempo ou alteração do passado.
Uma expansão deste princípio defende que o próprio universo altera as probabilidades de acontecimentos de forma a preservar a história e evitar a ocorrência de paradoxos, ou seja, o universo favorece eventos improváveis de forma a prevenir a ocorrência de eventos impossíveis.
Um exemplo muito bom e engraçado desta expansão deste princípio pode ser encontrada nos primeiros números do comic book Ivar Timewalker da Valiant Entertainment, onde uma personagem tenta desesperadamente alterar o passado para salvar o seu pai da morte num acidente de carro, mas vê as suas sucessivas tentativas sistematicamente sabotadas por ocorrências naturais e acidentes independentemente da improbabilidade dos mesmos.
Loop ou Laço Temporal - Na maioria dos casos o leitor associará este termo às histórias onde o protagonista vê-se forçado a reviver o mesmo período de tempo repetidas vezes, com ou sem memória de já o ter vivido anteriormente. O filme mais popular e talvez mais acessível deste tipo particular de loop será o Groundhog Day. Mas na realidade existem muitos mais filmes com laços temporais. Todos os filmes com paradoxos ontológicos pela sua natureza contêm um laço temporal causal (ver acima).
Eu gosto de distinguir 4 tipos de loops temporais. Isto é apenas a minha classificação pessoal, mas existem outros tipos e classificações que não abordarei:
Loop Causal - Paradoxo ontológico
Loop Não Causal - Sem paradoxo lógico mas sem necessáriamente uma explicação para o loop
Loop de Perspectiva Única - Quando só existe uma versão temporal dos personagens no período de tempo relevante.
Loop de Perspectiva Múltipla - Quando existem múltiplas versões temporais dos mesmos personagens, ou Doppelgangers, que coabitam o mesmo período de tempo.
Monitor Temporal - Um dispositivo que permita a transmissão de informação (visual ou auditiva) entre diferentes pontos no tempo. Como exemplos deste tipo de filme temos o Paycheck e Frequency.
Geralmente neste tipo de filme não existe uma deslocação física das personagens no tempo, mas pode também verificar-se os dois casos.
Multiverso, Universos Paralelos, Linhas Temporais Divergentes ou Alternativas - Apesar deste tipo de filme ou história ser apelativo para muitas pessoas, provavelmente também é verdade que mais ainda se sentem alienadas pela complexidade de alguns deles bem como pelas contradicções presentes na sua maioria. Muitos deste paradoxos podem ser explicados se considerarmos a possibilidade de universos múltiplos alternativos comtemplados pela mecânica quântica. Neste modelo, existem tantos universos como existem possibilidades. Assim, os paradoxos podem ser explicados como acontecendo noutro universo. Para dar um exemplo, um viajante do tempo que altere um evento no passado, pode estar na realidade a criar uma nova linha temporal alternativa ou a ver-se transportado para uma linha temporal alternativa onde a sua acção já faz parte dessa realidade ou universo. Confuso? Sim a mecânica quântica também me dá volta à cabeça, mas não tenham ilusões, por vezes é a única forma de explicar alguns filmes. Na realidade se pensarmos bem, é talvez a única forma de se alterar o passado sem paradoxos. Uma vez no passado, o presente (futuro do obeservador) apresenta muitos estado quânticos possíveis até uma acção do viajante colapsá-los apenas em um, tornando-o inevitável.
Deixo aqui um link para quem estiver interessado em aprofundar mais estes aspectos e outros que não mencionei, de uma forma mais detalhada e sem dúvida mais correcta do que eu. O site também faz uma análise a alguns filmes do género.
O tema é bastante mais rico que do à primeira vez possa pensar. Temos viagens ao passado, ao futuro, restringidas à teoria da relatividade, abertas à mecânica quântica, universos paralelos ou divergentes, linhas temporais imutáveis, paradoxos temporais de vários tipos, loops temporais para todos os gostos. Temos dramas, romances, policiais, comédias, ficção científica, terror, fantasia. Se por acaso viu uma vez um filme focando viagens temporais de que não gostou, e imediatamente disse para si mesmo que este tipo de filmes não é para si, existem boas possibilidades que haja outros talvez mais do seu agrado. Espero que esta lista seja útil nesse aspecto.
Eu gosto de distinguir 4 tipos de loops temporais. Isto é apenas a minha classificação pessoal, mas existem outros tipos e classificações que não abordarei:
Loop Causal - Paradoxo ontológico
Loop Não Causal - Sem paradoxo lógico mas sem necessáriamente uma explicação para o loop
Loop de Perspectiva Única - Quando só existe uma versão temporal dos personagens no período de tempo relevante.
Loop de Perspectiva Múltipla - Quando existem múltiplas versões temporais dos mesmos personagens, ou Doppelgangers, que coabitam o mesmo período de tempo.
Monitor Temporal - Um dispositivo que permita a transmissão de informação (visual ou auditiva) entre diferentes pontos no tempo. Como exemplos deste tipo de filme temos o Paycheck e Frequency.
Geralmente neste tipo de filme não existe uma deslocação física das personagens no tempo, mas pode também verificar-se os dois casos.
Multiverso, Universos Paralelos, Linhas Temporais Divergentes ou Alternativas - Apesar deste tipo de filme ou história ser apelativo para muitas pessoas, provavelmente também é verdade que mais ainda se sentem alienadas pela complexidade de alguns deles bem como pelas contradicções presentes na sua maioria. Muitos deste paradoxos podem ser explicados se considerarmos a possibilidade de universos múltiplos alternativos comtemplados pela mecânica quântica. Neste modelo, existem tantos universos como existem possibilidades. Assim, os paradoxos podem ser explicados como acontecendo noutro universo. Para dar um exemplo, um viajante do tempo que altere um evento no passado, pode estar na realidade a criar uma nova linha temporal alternativa ou a ver-se transportado para uma linha temporal alternativa onde a sua acção já faz parte dessa realidade ou universo. Confuso? Sim a mecânica quântica também me dá volta à cabeça, mas não tenham ilusões, por vezes é a única forma de explicar alguns filmes. Na realidade se pensarmos bem, é talvez a única forma de se alterar o passado sem paradoxos. Uma vez no passado, o presente (futuro do obeservador) apresenta muitos estado quânticos possíveis até uma acção do viajante colapsá-los apenas em um, tornando-o inevitável.
Deixo aqui um link para quem estiver interessado em aprofundar mais estes aspectos e outros que não mencionei, de uma forma mais detalhada e sem dúvida mais correcta do que eu. O site também faz uma análise a alguns filmes do género.
O tema é bastante mais rico que do à primeira vez possa pensar. Temos viagens ao passado, ao futuro, restringidas à teoria da relatividade, abertas à mecânica quântica, universos paralelos ou divergentes, linhas temporais imutáveis, paradoxos temporais de vários tipos, loops temporais para todos os gostos. Temos dramas, romances, policiais, comédias, ficção científica, terror, fantasia. Se por acaso viu uma vez um filme focando viagens temporais de que não gostou, e imediatamente disse para si mesmo que este tipo de filmes não é para si, existem boas possibilidades que haja outros talvez mais do seu agrado. Espero que esta lista seja útil nesse aspecto.
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