quarta-feira, 25 de novembro de 2015

5 Séries Canceladas Demasiado Cedo


Há sempre algo que me deixa triste quando acabo de assistir a um filme que na generalidade não gostei mas ao qual reconheço que tinha potencial para ser muito melhor se tivessem sido feitas escolhas diferentes. As séries de televisão têm um equivalente. São as séries que se viram canceladas demasiado cedo. Aclamadas pela crítica, amadas pelos fâs, foram no entanto vítimas da sua larga maioria da crueldade dos factos - níveis de audiência abaixo das expectativas e/ou associadas a custos de produção demasiado elevados.

Fica aqui a minha elegia a séries fugazes ou às que nunca lhes foi permitida atingir a plenitude originalmente planeada, e que apesar disso merecem bem ser revisitadas e descobertas por quem ainda não teve oportunidade de o fazer.

FIREFLY


Depois de Buffy The Vampire Slayer, e antes de se tornar a mega estrela de Hollywood com Avengers, Josh Wheadon produziu esta pequena jóia sobre um universo futurista onde após o final de uma guerra civil, um bando de renegados sobrevive a bordo de uma nave espacial - Serenity - na orla da civilização humana onde impera o espiríto pioneiro e a desordem características do western Americano. De facto, não só o visual da série é uma referência aos filmes de western mas também a maioria dos personagens são arquétipos  do género.


Assim temos Nathan Fillion e Gina Torres como ex-combatentes do lado perdedor da guerra preenchendo o papel de soldados da Confederação após a Guerra de Secessão Americana. Alan Tudyk é o piloto da nave e o elemento cómico. Morena Baccarin desempenha o papel de prostituta, elemento comum nos saloons do faroeste. Adam Baldwin desempenha o papel de mercenário, claramente o papel do pistoleiro da antiguidade. Jewel Staite é a engenheira/mecânica da nave. A estes juntam-se ainda um par de irmãos, um médico desempenhado por Sean Maher e Summer Glau no papel de uma doente mental vítima de experiências pela potência vencedora e que necessitam de fugir à lei, e ainda Ron Glass no papel de um pastor com um passado negro. Nem faltam os índios, aqui como os bandos de canibais Reavers.


Esta é talvez a série com a melhor razão entre número de fãs e número de episódios. De facto só foram transmitidos 11 episódios antes do cancelamento prematuro, ficando por transmitir 3 outros entretanto já produzidos. O apoio dos fãs foi tão grande que conseguiram a edição em dvd de todos os episódios, e as vendas da box foram tão boas que Whedon conseguiu persuadir a Universal a produzir o filme Serenity, conseguindo uma razoável resolução para os seus personagens. Ainda assim sabe a pouco para uma série planeada para 7 temporadas.


Com um elenco a transbordar de talento e carisma, um Josh Wheadon em forma, e um bando de fãs ferverosos, porquê o cancelamento? Bem, sem dúvida um dos factores tem a ver com a transmissão dos episódios fora da ordem planeada, facto que também se verificou em Portugal. A box de dvds corrigiu esse problema, e se noutra série este facto não seria perturbador, nesta é claramente um problema. Ainda me lembro de coçar a cabeça a tentar entender as reações dos personagens nalguns episódios, os quais faziam muito pouco sentido derivado deste facto. Outro factor para as baixas audiências terá tido a ver com a fusão do western com ficção científica, que não terá sido bem aceite. De facto, o visual da série é bastante estranho e demora algum tempo a habituar-nos a este universo.

maldita sejas Fox


FOREVER


Esta foi uma tripla surpresa. Foi uma surpresa na forma como a descobri totalmente por acaso, nunca tendo até aí ouvido nada sobre ela. Foi uma surpresa na forma como me viciou imediatamente, não só pela excelente química entre os actores, bem como pela escrita acima da média deste tipo de shows. E foi também uma surpresa o seu cancelamento após apenas a primeira temporada.

Pai (à esquerda) e filho adoptivo (à direita)
A série conta-nos as aventuras do Dr. Henry Morgan (Ioan Gruffudd),  médico legista em New York, que auxilia a policia da cidade a resolver casos. O que é que distingue esta série de dezenas de outras do mesmo género? O prestável doutor é imortal. Sim, ele não consegue morrer por muito que tente, desde a primeira vez que isso "aconteceu" há cerca de 200 anos atrás. Sempre que isso sucede, ele reencarna aparecendo ileso e totalmente nu no corpo de água mais próximo, o que na série corresponde ao rio Hudson.  Desde então têm-se dedicado ao estudo do corpo humano e da morte em particular com o intuito de descobrir uma solução para o "problema" que o aflige.


Já mencionei a excelente química entre os actores? Temos três grandes duplas dinâmicas na série. A relação pai-filho entre Ioan Gruffudd  e Judd Hirsch no papel de filho adoptivo idoso, com vários flashbacks ao passado com a esposa e mãe que desapareceu em condições pouco claras, papel muito bem desempenhado por Mackenzie Mauzy.
Temos a relação principal com a detective Jo Martinez desempenhada pela belíssima Alana de la Garza, que se torna ao longo da série num potencial interesse romântico e perigo para a manutenção do segredo do bom doutor. E ainda a relação hilariante com o técnico legista desempenhado brilhantemente por Donnie Keshawarz.
Todos os personagens são muito bem desenvolvidos e algumas histórias em alguns episódios conseguiram ser agradavelmente dramáticos, algo pouco usual neste género.

um prometedor casal
Porquê o cancelamento? Possivelmente terá que ver com politicas de cadeia ABC que não era a produtora da série e logo não detinha todos os direitos sobre a mesma. As audiências não eram brilhantes mas apesar disso nada que indicasse um fim prematuro. Outro factor a ter em conta terá sido a saturação deste tipo de série, que provavelmente terá alienado à partida muitos espectadores como apenas mais uma derivação do género. O vilão introduzido a certa altura também não terá ajudado a essa sensação, desta vez fazendo relembrar a série Highlander nalguns aspectos. O cancelamento foi no entanto uma surpresa pois à partida tudo indicava uma continuação, tendo inclusive o episódio final acabado num cliffhanger. Mesmo assim, não posso deixar de recomendar o seu visionamento para um tempo bem passado à frente do pequeno ecrã (ou grande se tiver uma daquelas televisões ultra super HD onde se consegue ver as rugas duma atriz como se estivesse a olhar para o Grand Canyon).


 ALMOST HUMAN


E mais uma série que não resistiu à primeira temporada. Esta tenho que confessar doeu bastante, pois depressa se tornou uma das minhas favoritas. Revi recentemente todos os episódios e é realmente uma lástima que tenha sido cancelada pois é das séries mais inteligentes na forma como em forma de entretenimento aborda assuntos e problemas bastante relevantes já nos dias de hoje ou num futuro muito próximo.


A série é mais uma no género de drama criminal como dezenas outras  actualmente em exibição, mas passada numa cidade num futuro próximo onde todos os detectives de policia são obrigados a emparceirar com um colega androide. Karl Urban é John Kennex, um veterano a regressar de baixa após ter ficado em coma durante alguns meses e ter perdido uma perna durante uma emboscada de uma organização criminosa, durante a qual foi abandonado pelo seu parceiro androide MX. A sua chefe (Lili Taylor) atribui como seu novo parceiro Dorian (Michael Ealy), um androide DRN, um modelo policial abandonado por comportamento imprevisível. Demasiado humano. E assim nasce a melhor dupla de detectives na televisão desde...sempre? Não sei se será a melhor de todos os tempos mas terá sido certamente uma das melhores a agraciar o meu televisor.
Para além dos citados actores, a série conta ainda com participações marcantes de Mackenzie Crook como Rudy o técnico que parecer ser versado em tudo e mais alguma coisa, e a estonteante  Minka Kelly como detective Stahl.


Um dos pontos forte de série está nos temas abordados. Engenharia genética e seus impactos na sociedade, robótica e suas utilizações nomeadamente a sua militirização, inteligência artificial, clonagem, avanços da tecnologia na indústria do sexo, narcotráfico, transplante de orgãos, posse de armas, redes sociais, e até de vida após a morte. Todos eles abordados de forma interessante embora simples.
Outro ponto forte é o humor. Não estarei a mentir se disser que é das séries que mais me fez rir apesar de não ser uma comédia. A relação entre Kennex e Dorian é frequentemente hilariante.
Ainda de assinalar alguns actores convidados surpreendentes, entres os quais a Gina Carano como uma android de combate criada por John Larroquette. E ainda uma actriz praticamente desconhecida (Megan Fergunson) cuja performance me fascinou no episódio Blood Brothers.

outra vez a Fox

Com apenas 13 episódios é uma série que me deixa imensas saudades. A série foi cancelada por audiências relativamente baixas, principalmente se considerarmos os elevados custos de produção associados. De notar que esta também viu os seus episódios serem transmitidos fora da ordem planeada. Não o suficiente para serem um problema, mas o suficiente para ser perceptível.


CARNIVALE


Este conseguiu chegar à segunda temporada, mas mesmo assim falhou em muito as planeadas seis que eram aparentemente necessárias para contar a história e construir a mitologia da mesma. E se acham um exagero serem necessárias tantas temporadas para contar uma história, estão provavelmente certos e será uma das razões para o fracasso da série. De facto, durante imenso tempo (demasiado na minha opinião) o espectador é deixado no escuro quanto à verdadeira natureza dos eventos que presencia e tudo se desenvolve muito devagar o que nunca é bom augúrio para captar audiências de uma geração habituada ao imediato.

provavelmente a mesma expressão da maioria dos espectadores
É a história da luta entre o bem e o mal, personificadas na série pelo personagem de Ben Hawkins (Nick Stahl), que manifesta poderes curativos, e o reverendo Justin Crowe (Clancy Brown) que descobre a capacidade de controlar a mente de outros. A acção decorre durante a Grande Depressão, e durante a mesma observamos o aproximar do inevitável confronto entre os dois personagens à medida que o circo em que Ben trabalha se desloca mais perto de Crowe.


Elevados valores de produção e visual cuidado (Ronald D. Moore foi o responsável pela primeira temporada antes de sair para fazer o Battlestar Galactica), excelentes performances dos actores e uma mitologia complexa tornam a série apesar de lenta e obscura, também fascinante de assistir. Em grande parte tem as mesmas virtudes que a série seguinte, mas padece talvez também dos mesmos factores que levaram ao cancelamentos de ambas,


É uma pena que a série não tenha tido possibilidade de prosseguir o seu curso, mas as baixas audiências associadas aos elevados custos de produção tornaram esse destino inevitável. De facto, ela tinha sido estruturada como uma trilogia em que cada uma das partes correspondia a duas temporadas de 12 episódios cada, decorrendo em diferentes períodos da história Americana, eventualmente culminando no armagedão. Muitos pormenores da mitologia ficaram por esclarecer (se estiverem interessados podem consultar mais aqui).


Não vou mentir. Na generalidade, poderia ter sido melhor executada de forma a tornar os episódios e a série no seu todo mais cativante. E o cancelamento prematuro é mais danoso que nas séries anteriores, devido não só à natureza não episódica desta, mas também por deixar demasiados elementos por esclarecer. Mas mesmo assim, na sua forma inacabada, acho que vale a pena visionar se nunca teve oportunidade.


HANNIBAL


Talvez a série que mais vezes recomendei a amigos e colegas e também a série que menos sucesso fez entre eles, Posso mesmo afirmar que nenhum deles ficou fã, o que ajuda a explicar o destino final que ela teve. As audiências não perdoam.

Planeada inicialmente para sete temporadas, as primeiras três (as que tivemos efectivamente) seriam material original, sendo as restantes uma nova visão pelos olhos do criador da série, Bryan Fuller, do material original publicado e dos filmes, culminando numa última temporada com uma resolução final para a personagem.


Não vou adoçar a pílula. Demorei alguns 3 ou 4 episódios até encaixar com a ela. Mas depois? Completamente viciado. Foi sem dúvida a séria mais bela visualmente a agraciar a minha tv durante o período que esteve no ar. Coisas horríveis surgiam todos os episódios, mas captadas de forma sublime. E depois temos uma das melhores relações entre dois personagens magistralmente desenvolvidos pelos criadores e desempenhados por Hugh Dancy e Mads Mikkelsen. Existem vários outros personagens de relevo mas a série vive e respira por estes dois.


Após o cancelamento pela NBC, ainda se tentou achar outro meio de continuar a série, nomeadamente através de distribuição por streaming, mas acordos pré-existentes dessa forma de distribuição e limites de tempo impossibilitaram a mesma. Actualmente existe ainda a esperança que possamos voltar a ver os mesmos actores a desempenhar estes papéis no grande ecrã, mas o formato televisivo parece definitivamente posto de parte.

bon appétit