sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Os meus filmes de Natal este ano

Mo-Cap arcaico mas o coração no sítio certo.

Renovação anual da minha fé na humanidade. 

Danny Elfman FTW
O melhor filme de Tim Burton?

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Passengers


Argumento: A nave espacial Avalon transportando 5000 passageiros na sua viagem de 120 anos para uma nova colónia humana num planeta distante, sofre uma avaria que resulta no acordar prematuro das cápsulas de hibernação dos passageiros, 90 anos antes de atingir o seu destino. 


Gostei:
- Este filme tem sido devastado pela generalidade dos críticos, de tal forma que estive para não ir ver. Mas reparei que o grande problema que eles colocam ao filme têm a ver com uma decisão moralmente errada ou questionável que um dos protagonistas toma em determinado ponto na história. Como vi um dos críticos que respeito mencionar que essa questão até é abordada de forma razoável, decidi arriscar e confesso que gostei do filme. Acho que Passengers acaba por ser vítima do frenesim stressante que varre actualmente os EUA com o politicamente correcto no que respeita às questões de sexo, raça e orientação sexual. Tenho quase a certeza que se os papéis fossem revertidos e a dita decisão fosse tomada por uma protagonista feminina, não teríamos o mesmo tipo de reacção que o filme está a ter da crítica. O filme tem problemas sem dúvida, mas na minha humilde opinião, o facto de um protagonista tomar uma decisão moralmente repreensível não é um deles, muito pelo contrário.
- Valores de produção e design absolutamente fantásticos.





- Boa química entre os dois actores, Chris Pratt e Jennifer Lawrence. Achei-os convincentes em todas as facetas do seu desempenho.
- Michael Sheen como o empregado de bar robótico.
- Direcção sólida do realizador Norueguês Morten Tyldum, o mesmo de Headhunters and Imitation Game. Se tivermos que apontar problemas ao filme, estes são provenientes mais do argumento que da direcção em si.


Não Gostei:
- O trailer é enganador sobre a história do filme, o que não ajuda nada na gestão das expectativas com o mesmo.
- O grande problema de Passengers é o facto de tentar ser muitas coisas ao mesmo tempo, como um drama humano sobre isolamento, um romance, e um disaster movie no espaço. Cada uma das partes funciona bemzinho e poderia ter sido o foco para um filme necessariamente diferente e provavelmente superior. Infelizmente o que obtemos na realidade não consegue casar plenamente todos estes géneros. Mesmo assim reitero que tive prazer no seu visionamento e irei provavelmente voltar a vê-lo no futuro devido aos seus elementos de ficção científica que me são pessoalmente apelativos.
- Alguns erros ou falhas no argumento relativamente a partes técnicas ou lógicas, como por exemplo a forma como a gravidade artificial é tratada na história e a existência de apenas uma cama médica automática na nave não fazem muito sentido, entre outros pequenos detalhes.



Recomendação: Melhor do que estava à espera face às críticas que o filme tem recebido.


quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Rogue One: A Star Wars Story




 Argumento: Quando a saga Star Wars começou em 1977 com um scroll de exposição acompanhado de música de John Williams, um dos factos mencionados nessa parede de texto era o roubo dos planos da Death Star. Rogue One é a história dos rebeldes envolvidos directamente nesse roubo.


Gostei:
Ok, vamos colocar as cartas na mesa. Eu não sou fanático do universo Star Wars. Não leio os livros ou comics. Apenas sigo os filmes embora pretenda visionar no futuro as séries de animação. Portanto não faço parte da elite hardcore seguidora da série, mas também sou capaz de ser um fã mais conhecedor que muitos. Assim sendo, posso honestamente afirmar que gostei do filme, mas tenho sérias dúvidas que Rogue One vá encantar o espectador casual ou angariar novos fãs para o franchise.

- O principal ponto positivo para mim é a ligação que consegue fazer com o episódio IV da saga. Penso que funciona muito bem como complemento ao filme inicial, enriquecendo a experiência ao visioná-lo. De facto Rogue One termina apenas algumas horas antes do início do episódio IV.
- Fan service. Tal como disse, os fãs hardcore da saga são quem mais apreciarão esta obra e os múltiplos easter eggs, alguns subtilmente inseridos na acção do filme.
- O terceiro acto. O filme acaba em crescendo positivo, o que é sempre preferível ao reverso. A acção na parte final é estupenda e associada aos elementos de fan service e a ligação ao inicio do episódio IV faz com que termine em grande. É quase inevitável a sensação de euforia que o final despoletará nos maiores fãs da saga.



- Gostei do tom mais pesado do filme. Não que seja um filme verdadeiramente dramático de guerra, mas sente-se mais a perda de vidas derivado do conflito do que em anteriores filmes da saga. Penso que o filme faz parcialmente justiça à etiqueta de filme de guerra que o marketing vendeu. Para além disso, gostei bastante das cenas de bastidores da rebelião, e a forma como de alguma forma humanizou a mesma, quer pela negativa quer pela positiva. Neste filme, mais do que em qualquer outro na saga, se sente a fragilidade da aliança ou rebeldes, e de como estiveram perto de serem definitivamente derrotados, e de como a história poderia ter seguido um rumo completamente diferente.
- Outro ponto positivo para mim é a de que é o primeiro filme da saga onde a maioria dos protagonistas são seres comuns, sem sabres de luz ou poderes sobrenaturais que os ajudem. Este é verdadeiramente o primeiro filme onde se sente a importância dos esforços e sacrifícios dos comuns rebeldes.
- Darth Vader. Fizeram justiça ao personagem, e mais não digo.
- K-2SO. Para mim a melhor personagem do filme. Um robot. O que me leva directamente aos pontos negativos.



Não Gostei:
- Caracterização dos personagens fraca. Se tivesse que apontar apenas um ponto negativo ao filme, seria sem dúvida o facto que no final, com uma ou duas excepções, fiquei sem conhecer realmente os protagonistas do grupo principal, e consequentemente o nível de empatia com os mesmos é baixo. Como consequência a resposta emocional aos seus destinos deixa muito a desejar e prejudica significativamente a experiência. Não sei se não será um problema que Gareth Edwards terá que corrigir no futuro, pois Godzilla também sofre do mesmo problema. Gareth Edwards parece ter de facto muito em comum com George Lucas. A direcção de actores não parece ser o seu forte.
- Ben Mendelsohn como Krennick e Mads Mikkelsen como Galen Erso. Krennick parece um personagem perdido, mesmo irrelevante durante a grande maioria do filme e a relação anterior entre os dois é sugerida mas pouco desenvolvida no filme. Aparentemente terá que se ler o livro Catalyst: A Rogue One Novel para se entender as nuances destes personagens. Pessoalmente penso que o filme tem que se suportar em si mesmo sem auxílio de meios extra, pelo que falha completamente neste aspecto.
- Felicity Jones. Não sei o que pensar desta actriz. Já a vi com desempenhos muito bons e credíveis, como também em papéis muito pouco convicentes onde me aborrece profundamente. Infelizmente aqui está no último campo. Não sei se será actriz que necessita de melhor direcção por parte dos realizadores. Seja como for, foi uma má escolha de casting para mim.
- A personagem desempenhada por Donnie Yen. Estava apreensivo desde os trailers e o filme não conseguiu mudar a minha opinião. É pena porque até gostei da personagem, mas simplesmente  tenho sérios problemas com alguém a lutar contra soldados com armadura armado somente com um pau na esmagadora maioria do tempo.

Pois, é bastante estúpido, apesar dos esforços em contrário

- Uso de CGI em dois casos particulares foi uma péssima decisão pois os resultados obtidos são bastante maus, ao ponto de me estragarem a imersão no filme tal o grau de artificialismo introduzido. Se até compreenda num dos casos (embora não concorde), noutro não entendo a decisão, principalmente quando a Marvel já utilizou no passado recente, e com bastante sucesso diga-se de passagem, técnicas de maquilhagem digital que permitiriam obter muito melhores resultados.
- A falta do scroll inicial. Este filme até beneficiaria bastante dele. Não compreendo a razão de o retirarem.

Recomendação: Apesar de falhas e defeitos, é um filme a não perder para os adeptos da saga. Para os restantes espectadores, será melhor gerirem as expectativas para níveis mais baixos.


terça-feira, 29 de novembro de 2016

Moana


Argumento: Quando uma maldição antiga iniciada pelo semi-deus Maui ameaça uma paradisíaca ilha na Polinésia, a determinada filha do chefe tribal local decide aventurar-se no vasto oceano e procurar Maui de forma a obrigá-lo a corrigir o mal feito.


Gostei:
- Apesar de secção negativa ser relativamente longa, Moana é apesar disso um filme bastante agradável, com uma protagonista feminina forte, independente e determinada que cai bem no actual espectro socio-mediático da diversidade. A animação é muito boa e aproveitam muito bem os cenários paradisíacos das ilhas e oceano pacífico. Na sua marioria as cenas de acção estão bem conseguidas e é quase garantido um sucesso comercial com o merchandising a partir dos personagens e criaturas do filme. Kakamora aos magotes.


- Apesar de ser um filme da Disney à antiga, leia-se números musicais inseridos na história e acção de forma pouco orgânica, tenho que dar a mão à palmatória e reconhecer a qualidade das canções, algumas das quais ficam facilmente no ouvido.
- As tatuatens de Maui.
- Resumindo, não acho que seja o melhor filme de animação do ano, nem sequer o melhor da Disney, mas vale sem dúvida a ida ao cinema para desfrutar dos visuais deslumbrantes e de uma nova princesa Disney mais reflexiva dos tempos actuais.


Não Gostei:
- A mudança do nome da personagem principal e título do filme em muitos países europeus por razões que me escapam ou por razões realmente muito estúpidas a serem verdadeiros os rumores. Algo que já tinham feito com o Zootopia.
- Em retrospectiva, o segmento com a personagem de Tamatoa foi um falhanço para mim pessoalmente, principalmente se comparado com o segmento dos Kakamora e a recta final com Te Ka.
- Hei Hei é um dos piores, senão mesmo o pior, sidekick da Disney. Completamente inútil e raramente engraçado. Um desperdício de Alan Tudyk.
- De uma maneira geral não gosto de musicais pela forma como os números musicais paralizam o ritmo de um filme e por ocorrerem muitas vezes de forma artificial. É uma forma narrativa quase obsoleta hoje em dia, apesar de nos últimos anos ter-se verificado um ressurgimento do género com reinvenção da forma como esses números são inseridos na acção e história. No entanto, Moana não é um bom exemplo. Apesar de ter boas canções, (vai de certeza ganhar o óscar para melhor canção original), o filme parece produto de outras décadas atrás, apesar dos visuais de vanguarda que ostenta.


Recomendação:

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Nocturnal Animals


Argumento: A directora de uma galeria de arte (Amy Adams) recebe do ex-marido (Jake Gyllenhaal) um manuscrito de um romance. Nele, um casal com a filha adolescente em viagem de carro algures no Texas durante a noite, envolvem-se relutantemente com um trio de indivíduos que os obrigam a sair da estrada.


Gostei:
- Tom Ford é uma personagem única no mundo do cinema. Um outsider oriundo do mundo da moda, assinou em 2009 com 'A Single Man', o seu filme de estreia como realizador e argumentista, um dos melhores filmes desse ano. Sete anos depois 'Nocturnal Animals' vem confirmar o talento anteriormente demonstrado, mas mais impressionante é o facto que esta última obra consegue ser ainda mais fascinante que o seu criador. É que se pensarmos bem, Tom Ford, um Democrata e gay assumido seria dos mais improváveis cineastas a criar um filme que é claramente pró-Donald Trump. Duvido que tenha sido esse o objectivo ou intenção, mas o timing e mensagem ou temas abordados pelo filme são inegáveis. Não acreditam? Vejam o filme.
- O filme capta imediatamente as audiências com o genérico inicial, que exibe uma série de mulheres morbidamente obesas a exibirem-se no ecrã. Ficamos imediatamente despertos para a possibilidade de estarmos perante algo diferente. Mas isso é apenas um aperitivo face ao carroussel emocional que nos espera quando a personagem de Amy Adams começa a ler o romance escrito. Tal como a leitora no filme não resiste à história nessas páginas, também eu como espectador senti-me completamente indefeso ao que transcorria do ecrã. Acho que nunca na minha vida senti tanto a necessidade de possuir uma arma de fogo para defesa pessoal e da família como ao assistir à progressão dos eventos envolvendo Jake Gyllenhaal (que também desempenha um personagem no romance), Isla Fisher, a filha de ambos e Aaron Taylor-Johnson e os seus dois comparsas. Este segmento do filme por si só vale a pena o preço do bilhete. As interpretações são notáveis, e o ritmo, tensão crescente da cena é magistralmente dirigida pelo realizador.


- Quando pensamos que sabemos ao que estamos a assistir e começamos a adivinhar o rumo da história, o filme surpreende-nos seguindo um caminho completamente inesperado, à medida que nos vai revelando flashbacks da história antiga do ex-casal. Os eventos do livro ganham outra dimensão e os papéis das personagens transformam-se. Mais uma vez ocorre-me a palavra fascinante.
- Aaron Taylor-Johnson foi uma agradável surpresa. No passado o actor nunca me convenceu muito dos seus talentos mas aqui rouba a atenção em todas as cenas de que faz parte, mesmo com actores do calibre de Jake Gyllenhaal e Michael Shannon.


Não Gostei:
- Não desgosto de finais ambíguos, e acho apropriado o final anti-climático deste filme, mas penso que neste caso específico a sua ambiguidade causa algum dano ao filme pelas assumpções que as pessoas poderão fazer sobre o destino final de uma das personagens.

Recomendação:

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Hacksaw Ridge



Argumento: A história do primeiro objector de consciência norte-americano, Desmond Doss, um membro da igreja adventista do sétimo dia, a receber a medalha de honra pelas suas acções durante a batalha de Okinawa na segunda guerra mundial.


Gostei:
- De saudar o regresso de Mel Gibson à cadeira de realizador, dez anos depois do seu último trabalho. Apesar de todas as controvérsias extra-curriculares que mancharam a sua imagem pública em anos recentes, Hacksaw Ridge vem confirmar o inegável talento do actor/realizador como contador de histórias, oferecendo-nos um filme que irá ser lembrado no futuro como um bom (mas não excelente) filme tendo como cenário a segunda guerra mundial pela forma como as cenas de batalha foram filmadas. De facto, uma das críticas que tenho visto ser apontada ao filme é a de que para uma obra que supostamente pretende divulgar uma mensagem anti-guerra, tendo um objector de consciência como protagonista, o que mais se retém na memória são precisamente os segmentos de batalha e carnificina bélica. E se em parte concordo com esta análise de que o filme poderá em parte falhar na sua mensagem, penso também que se formos honestos, a violência retratada no filme nunca é glorificada, muito pelo contrário, e que Desmond Doss nunca se viu a si mesmo como um verdadeiro objector de consciência, tendo-se dado como tal como a única forma de servir como não combatente. Dito isto, o que podem esperar deste filme?


O filme não funciona como biopic pois deixa demasiados elementos da sua vida de fora, mesmo aqueles relacionados com a sua carreira militar, nomeadamente duas condecorações estrelas de bronze por bravura em batalhas anteriores. Andrew Garfield tem um desempenho razoável, mas o filme é demasiado frugal na construção dos seus protagonistas incluindo o principal, apesar de conseguir globalmente criar admiração per ele. Também não é pela sua mensagem anti-guerra que o filme vale a pena, se é que alguma vez a teve na agenda. Não, Hacksaw Ridge é sim excelente a mostrar o nível de coragem e bravura (para muitos de loucura) que é necessário demonstrar no campo de batalha para receber a dita condecoração. Significa colocar a própria vida directamente em risco em situação de combate geralmente para salvar outras. Significa colocar a vida de outros acima da sua, facto que a distingue de outras condecorações de bravura em combate. 
- Cinematografia de Simon Duggan.
- Como já mencionei anteriormente, as cenas de batalha são brilhantemente dirigidas.


Não Gostei:
- Entendo a economia de tempo necessária para contar uma história num filme de tempo limitado, mas penso que neste caso específico, e após ler um pouco sobre os eventos que o filme pretende retratar, não foi feita justiça aos factos. No filme fica-se com a impressão que a acção decorrre no espaço de 48 horas, quando na realidade os actos dignos de condecoração estenderam-se por vários dias. Enfim, um ponto de menor importância mas que acho revelante de mencionar aqui.
- Caracterização de personagens poderia ter sido melhor, com uma ou outra excepção.
- A rede de escalada. Nunca é explicada a razão pela qual ela se mantém no local apesar de sucessivas retiradas, o que não faz sentido para mim. Aliás alguns pontos da batalha, estratégia e localização do espaço nunca é muito clara.

Presidente Harry Truman condecorando o verdadeiro Desmond Doss

Recomendação: Não brilhante mas um sólido retorno de Mel Gibson atrás das câmeras.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Arrival


Argumento: A chegada de doze naves em vários pontos no globo desencadeia o pânico na população e governos. Nos EUA uma linguista (Amy Adams) é recrutada para tentar comunicação com os extraterrestres que aterraram no seu território.


Gostei:
- É dificil comentar sobre o último trabalho do realizador Denis Villeneuve sem estragar elementos do filme, que é porventura um dos melhores filmes de ficção científica dos últimos anos de um dos mais excitantes realizadores da actualidade, mas vou tentar o melhor possível, no entanto fica desde já o aviso que é possível que algumas menções que aqui faça possam ser consideradas spoilers.

- Para começar, acho que muitas pessoas se irão sentir um pouco frustadas pelo terceiro acto do filme. Até aí, este segue mais ou menos uma estrutura linear de um thriller à volta de um primeiro contacto com uma civilização extraterrestre, gerindo muito bem a tensão da situação e do mistério dos alienígenas. Normalmente o que se seguiria, e o que a maioria das pessoas estará certamente à espera, principalmente pelas expectativas criadas pelo trailer, seria um final repleto de acção bombástica com explosões. O que os espera no entanto no final é a necessidade de digerirem conceitos pouco familiares, tais como a natureza da linguagem e a forma como ela pode afectar a maneira como pensamos, e entrando plenamente no reino da ficção científica, como essa mesma linguagem poderá influenciar a capacidade como percepcionamos a natureza do universo e do espaço-tempo, e como o poderemos ou não eventualmente manipular. Podem esperar lidar com conceitos como predestinação e paradoxos temporais (se considerarmos de um ponto de vista de tempo linear) e não linearidade temporal.
- As boas notícias para as pessoas que ficaram um pouco apreensivas com o parágrafo anterior, é que mesmo que não sejam adeptas destes temas de ficção científica, existe uma história paralela que serve de âncora emocional ao filme, a da protagonista desempenhada pela Amy Adams. De facto, podemos entrar na sala de cinema com a expectativa do filme ser um drama sobre a experiência humana, mascarado de ficção científica, e penso que nesse caso a experiência com o filme será mais positiva para uma boa fatia do público.


- Gostei bastante da cinematografia de Bradford Young que já me tinha impressionado com o Selma e A Most Violent Year, e do ponto de vista de direcção artística o filme é absolutamente brilhante. O visual das naves, dos extraterrestes, da linguagem, tudo denota grande atenção a detalhes ajudando à verosimilhança da história.  
- Jóhann Jóhannsson assina aqui mais uma bela banda sonora para o realizador depois de Prisioners and Sicario. Irão trabalhar juntos novamente no Blade Runner 2049, a sequela ao clássico de ficção científica.


Não Gostei:
- Fiquei sem saber o que foi dito em mandarim numa cena fundamental para o desenrolar da história. Não que o conteúdo fosse importante, pois o que realmente importa é a sua ocorrência (perceberão quando visionarem o filme), mas penso que não se perdia nada em traduzirem.
- Não é propriamente um ponto negativo, mas gostaria de ter visto alguns personagens terem mais peso na história, especificamente as desempenhadas por Jeremy Renner, Forest Whitaker e Michael Stuhlbarg.

Recomendação:

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Green Room


Argumento: Uma banda punk vê-se feita prisioneira de um bando de neo-nazis após um dos seus membros testemunhar um homicídio nas instalações do concerto. A esperança de uma saída sem violência depressa cai por terra, seguindo-se uma luta brutal pela sobrevivência.


Gostei:
- Jeremy Saulnier é para mim um realizador a seguir. O seu Blue Ruin de 2013 foi um dos meus filmes favoritos desse ano, pelo que aguardava com expectativa este seu novo trabalho, a que se aliava as boas referências que o filme foi captando lá fora. É uma confirmação de um talento. Green Room é um tipo de filme bastante diferente do anterior, apesar de ambos serem narrativas de violência incapazes de nos deixarem indiferentes.
- De mencionar um facto curioso. Fui ver este filme com a minha irmã e no final ela disse-se que não gostou do mesmo pois não percebeu a maior parte da história. Confesso que fiquei surpreendido pois não tive qualquer problema em seguir a narrativa. Esta é completamente linear e não existe nada de ambíguo na história, pelo que atribuí o facto dela não ter prestado atenção por qualquer razão. No entanto, após ler alguns comentários sobre este filme na internet, constato que muitos espectadores do filme tiveram a mesma experiência. Mais, constato ainda que alguns elementos do filme me passaram também despercebidos, como por exemplo o título da canção inicial que a banda toca no concerto e razão pela qual algumas linhas de diálogo e acção acontecem (cover da canção dos Dead Kennedys - Punk Nazis Fuck Off). Assim, sugiro que o filme será algo subtil na forma como transmite a informação necessária, e podem contar com várias ocasiões em que inicialmente não perceberão algumas atitudes e acções das personagens, que só mais tarde na narrativa são esclarecidas. Assim, penso que o filme será recompensador proporcionalmente ao nível de atenção que lhe prestamos, e que este terá que ser necessáriamente elevado, e suspeito que um segundo visionamento será mesmo necessário para captar todas as nuances do argumento. 


Não Gostei:
- Imogen Poots. Nunca me convenceu em obras anteriores e mais uma vez não me convence aqui, embora menos mal, porque faz o papel de uma 'stoner', pelo que a incapacidade de desempenho não é tão flagrante. Pessoalmente preferia ter visto a Alia Shawkat com mais peso no filme.
- Ver Anton Yelchin no ecrã após a sua morte inesperada deixa um sabor agridoce. Este será porventura um dos últimos bons trabalhos que veremos do actor.


Recomendação:

A Monster Calls


Argumento: Com o infeliz título Português de Sete Minutos Depois da Meia-Noite, que sugere mais um filme de terror do que o drama emocional que realmente é, Monster Calls é a história de um rapaz vítima de bullying na escola que tem ainda a mãe em fase terminal de doença prolongada. Uma noite, uma árvore junto da sua casa transforma-se num monstro gigante que lhe diz que o irá visitar mais vezes no futuro e contar-lhe três histórias verdadeiras. No final o rapaz terá de contar a quarta, a sua própria história.  


Gostei:
- Não é tanto a história em si, mas a maneira como ela é contada que faz com que este filme brilhe. A maneira como o argumentista Patrick Ness juntamente com o realizador J.A. Bayona conjugam elementos fantásticos com os medos e dores bem reais, permite uma visão diferente de lidar com a perda de um ente querido, nunca perdendo o impacto emocional da situação, e durante a sua duração oferecer inclusivamente algumas lições de vida que para além de se aplicarem especificamente a contextos do protagonista no filme, poderão servir a todos em qualquer altura das nossas vidas.
- As histórias contadas pelo monstro são visualizadas na forma de animação. Este segmentos são absolutamente fabulosos, com um visual distinto de tudo o que tenho visto ultimamente. Só por si valem a pena o preço do bilhete.
- As interpretações. A não ser que se tenha um verdadeiro coração de pedra é impossivel ficarmos emocionalmente indiferentes à história e aos personagens, e muito desse trabalho deve-se às excelentes prestações, principalmente do miúdo Lewis MacDougall, e da Felicity Jones, que confesso nunca me impressionou em obras anteriores, mas percebo aqui a razão pela qual recebe trabalho.


Não Gostei:
- De ver uma sala de cinema completamente vazia para um filme desta qualidade.

Recomendação: