sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Guardians of the Galaxy - razões para uma decepção



Guardians of the Galaxy é um filme estranho da Marvel. Não pela estranheza das suas personagens, mas sim pela dualidade de reacções que me provocou, quer do ponto de vista puramente cinemático, quer do ponto de vista de fã e leitor do material original. Talvez seja essa a principal causa do meu incómodo com o filme. É que de todos os filmes da Marvel Studios que vi - Iron Man, Thor, Captain America: The First Avenger, The Avengers, Iron Man 3, Thor: The Dark World, Captain America: The Winter Soldier - este foi o primeiro que independentemente da qualidade geral e das falhas, me deixou exasperado quanto a alguns aspectos da adaptação do material original para o universo cinemático. Obviamente que são sempre necessárias alterações quando se adapta material de um meio tão diferente para outro como o são a banda desenhada e cinema, mas até agora, se houve algo que distinguisse pela positiva as adaptações da Marvel por ela própria e não por terceiros, foi o extremo cuidado que tiveram em manter a essência, a alma se quiserem, das suas personagens e entidades fictícias. Não digo que isso não foi conseguido em parte com os Guardiões, mas houve coisas que falharam.

Não é que tenha detestado o filme, nem tão pouco me tenha aborrecido durante o seu visionamento. É um filme blockbuster típico de Verão - ligeiro na mente, pesado na acção - e que espalha boa disposição, e no entanto não consigo sacudir a sensação de profunda desilusão com ele.  Isto apesar de alguns elementos que admito terem sido bem conseguidos no filme. Porquê?

Altas expectativas goradas:
Um dos factores que contribuiu para essa sensação foi certamente a enorme expectativa criada pela crítica, que um pouco por todo o lado dispensava e continua a dispensar de forma quase unânime superlativos ao filme, que muito sinceramente me parecem completamente imerecidos. Desde declarações que o filme era um novo Star Wars para uma nova geração, sobre o brilhantismo das sequências de acção e batalhas espaciais, até à inteligência do humor, enfim, era tudo perfeito e excelente, e o filme seria um novo marco na história do cinema. Claro que nada disso se verifica efectivamente e portanto é inevitável a decepção.

Falhas inerentes ao filme em si (e pormenores que me irritaram um pouco como leitor Marvel):
- Clímax emocional precoce. A sequência mais bem conseguida em termos emocionais de todo o filme, ocorre nos primeiros minutos. Quando a vi pensei cá para mim, isto realmente promete se já consegue mexer comigo tão cedo. Infelizmente, no restante filme nada chega sequer perto desse nível..

- Antagonista pouco definido ou fraco. Esta tem sido uma falha sistematicamente apontada aos filmes da Marvel e com vários graus de razão. Mas em Guardians atinge o cúmulo. Alguém consegue explicar a motivação do vilão principal Ronan? É dito que pretende sabotar um acordo de paz, mas porquê? Em nenhuma altura me lembro de ver algo que explicasse o seu ódio. Não há nada que defina a sua personagem para além do seu visual. Absolutamente nada. É como se argumentistas, realizador e produtores nem sequer se ralaram com isso. O único antagonista que consegue transmitir alguma forma de empatia ou reconhecimento motivacional é a personagem Nebula desempenhada por Karen Gillan, que praticamente não é utilizada no filme infelizmente.

- O humor. Isto foi essencialmente um problema causado pelas expectativas criadas. Como já tinha dito, é um filme bem disposto, que frequentemente conseguiu arrancar um sorriso deste espectador, mas raramente uma gargalhada. Lembro-me de rir mais e com mais vontade noutros filmes da Marvel que não foram laureados como o apogeu da comédia como aconteceu com este Guardians. Para ser sincero, metade das vezes sentia que o filme estava a tentar demasiado ser engraçado sem o resultado esperado.

- Sequências de acção. Achei-as pouco inspiradas. Não me consigo lembrar de nenhuma que tenha ficado retida na memória pela positiva. O inverso pelo contrário já não é verdade. Tomemos como exemplo o ataque da nave Kree de Ronan ao planeta Xandar e a tentativa dos Nova de evitar a aterragem. Serei eu o único que ao ver a cena a desenrolar-se, com diversas naves Nova a interligar-se para formar uma rede pensou o quão rídicula ela parece na versão final? E nem sequer foi original, pois semelhante manobra pode ser vista em episódios da série Star Trek com melhores resultados. Será que não havia ninguém durante ainda a fase de storyboarding que visse que aquilo não ia funcionar visualmente?

- E já que mencionei essa cena, sou eu o único a achar esquisito que numa nave de batalha Kree, só apareça um Kree - Ronan? Korath é também Kree nos comics, mas acho que não o é no filme, ou pelo menos não tem concerteza aspecto disso. Todos os outros elementos são de uma raça diferente. É pelo menos bizarro, se pensarmos que Ronan é supostamente um zelota Kree no filme.

- Gamora. The deadliest woman in the galaxy. Tradução - a mulher mais perigosa da galáxia. É assim descrita nos comics. Alguém ficou com essa sensação da Gamora do filme? Pois é, eu também não. É talvez a maior desilusão do filme, embora reconheça que grande parte se deve ao meu conhecimento prévio da personagem. Mas mesmo assim, se analisarmos puramente com base no filme, a personagem feminina do grupo é sem dúvida a menos conseguida. Todos os outros elementos da equipa (e aqui tenho que admitir que as adaptações de Star-Lord, Groot, Rocket e Drax foram moderadamente ou muito bem obtidas) têm arcos. Nós vemos a sua transformação, apesar de acelerada, de X para Y no decorrer do filme. Todos menos Gamora. Quando o grupo de reúne, ela já teve a sua epifania moral. Ela já não é a assassina implacável que lhe granjeou a fama (ou infâmia), vendo-se a personagem roubada dessa evolução no écran. Gamora acaba por se ver um pouco limitada a interesse romântico do líder do grupo o que sabe manifestamente a pouco, apesar de acabar por ter a melhor linha de diálogo de todo o filme.

- Nova Corps. É sem dúvida o maior desvio relativamente ao material original e pela negativa. O filme menciona um Império que não existe na BD. No universo original, Nova Corps é uma organização policial/militar de protecção do planeta Xandar e sua civilização. Não existe nenhum império intergalactico associado. Mas pior que isso é a forma como os seus elementos são retratados em filme como vulgares policiais sem poderes especiais. A versão do filme é bastante mais pobre. Não consigo deixar de imaginar a cena do confronto final no planeta Xandar que já mencionei anteriormente com a utilização dos Nova como nos comics, e como resultaria muito melhor, mesmo se insistissem na cena da rede.
E para piorar as coisas, como é que um bando de piratas espaciais parece mais formidável e melhor equipado que um império que supostamente rivaliza com uma das maiores potências na galáxia? Faz algum sentido? A Glenn Close é que deve estar bastante satisfeita por receber provavelmente um cheque chorudo por não fazer virtuamente nada.

- Infinity Stones. Alguém consegue explicar os que elas são, baseando-se simplesmente pelos filmes? Eu sei que finalmente neste, o quarto filme em que elas desempenham um papel de relevo no argumento, é-nos oferecida uma explicação e história das mesmas, mas juro que é a mais acelerada e trapalhona exposição na história do cinema. Tão rápida é que não consegui captar metade do que foi dito, e muito menos assimilar qualquer conteúdo inteligível (tive que pesquisar na net para descortinar a explicação dada, que na realidade oferece muito pouco, o que talvez explique a razão da velocidade imprimida no filme, como que propositadamente de forma a evitar que os espectadores pensem naquilo que estão a ver). E tenho a vantagem de pelo menos saber o que elas são e quais os seus poderes no universo original. O que me leva a outra pequena irritação. Já apareceram 3 Infinity Stones e não consigo identificar nenhuma de forma clara e objectiva com base nos seus poderes nos filmes, com excepção talvez do Aether em Thor: The Dark World, mas que no entanto é contrariado por declarações do Kevin Feige, produtor da Marvel. 

Enfim, no final desta parede de texto, não quero que pensem que Guardians of the Galaxy é um filme horrível, porque não é esse o caso. Simplesmente não é a obra-prima como quase todos parecem querer vender.





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