-Have the water wars started?
-No, they’re still all about oil
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sábado, 30 de agosto de 2014
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Defiance
Quando estreou no ano passado, esta série cuja acção decorre num planeta Terra profundamente transformado em 2047, a recuperar de uma guerra brutal entre a humanidade e um conjunto de espécies extraterrestres refugiadas, não podia deixar de me chamar a atenção. Aliás, essa é a minha resposta automática a qualquer série de um género que sempre se viu um pouco estigmatizado, e pelo qual sempre tive um fraquinho, quer na forma de cinema e tv, quer na forma de literatura. Se depois a qualidade justifica um acompanhamento regular já é outra história, mas no caso de Defiance até foi esse o caso. Apesar da primeira temporada não ter sido brilhante, dei por mim a segui-la todas as semanas.
A premissa geral, de uma cidade - Defiance, antiga St. Louis - que tenta recuperar e prosperar a partir das suas ruínas e da convivência e tolerância entre facções e espécies, com um histórico recente de violência e desconfiança, já para não falar de diferenças culturais óbvias, era suficientemente interessante. A isso juntava-se um ou dois enredos mistério a apimentar a história e agarrar o espectador, e que se foram desenvolvendo de forma satisfatória ao longo da temporada, para além de valores de produção e visuais apurados, e um conjunto de actores sólidos (alguns como Julie Benz, Jaime Murray, Graham Greene e Mia Kirshner caras bem conhecidas de outros trabalhos em tv e cinema), a desempenhar personagens que foram pouco a pouco ganhando vida à medida que decorria a temporada, a qual tem um final forte e que prometia uma segunda temporada excitante com uma alteração profunda do status quo.
Estamos agora a 3/4 na segunda temporada e começo a ter sérias dúvidas quanto à renovação para uma terceira. Não só a Syfy tem uma péssima reputação no que respeita a apoiar a continuidade das suas séries, como neste caso nem seria surpreendente face à fraca temporada a que tenho assistido. Continuo a seguir religiosamente os seus episódios, por uma razão que indicarei mais abaixo, mas o facto que é que vários dos seus elementos têm-se mostrado decepcionantes. Senão vejamos:
1. A alteração do regime governante. Defiance é efectivamente uma cidade ocupada por uma potência externa, mas tirando os primeiros dois ou tês episódios da temporada, praticamente não se nota a diferença no dia a dia da cidade e impacto nas histórias, se exceptuarmos a simples presença física dos novos personagens. A ocupação é visível e tem algum impacto negativo individualmente sobre algumas personagens, mas num todo, não se sente a ocupação de forma fundamental. Essencialmente o final da primeira temporada criou uma expectativa que nunca se concretizou.
2. Espécies Votan. Das 7 espécies extraterrestres que colonizaram o planeta, apenas 2 ou 3 viram-se minimamente desenvolvidas na primeira temporada, nomeadamente os Irathients, os Castithans e os Indogenes, isto porque apenas estas 3 espécies têm personagens de algum relevo na série. Esta situação mantêm-se mais ou menos inalterada nesta temporada, o que juntamente com outros factores representa um enorme potencial que não está a ser explorado e que chega a ser frustante.
3. O enredo secundário à volta de Irisa e do seu papel profético, que tão excitante e promissor parecia na primeira temporada, tornou-se fonte de aborrecimento. Mais exasperante que ver um elemento tornar-se perfeitamente desinteressante, é ter que gramar uma percentagem considerável do tempo dos episódios dedicado ao mesmo.
4. Personagens. Um dos pontos altos. Personagens que foram crescendo e evoluindo ao longo da temporada anterior. Defiance era inclusivamente uma série que tinha um número invulgar de personagens femininas fortes, superiores em número e poder aos seus pares masculinos. Na sua esmagadora maioria viram-se regredir nesta temporada.
- Nolan. Personagem estagnado. Não tem tido a relevância esperada apesar de ser cabeça de cartaz da série. Um ou outro bom momento representam muito pouco em comparação com a anterior temporada.
- Irisa. A Irathian rebelde regrediu para uma sombra do que era, agora que parece ter deixado de ter personalidade própria como resultado da submissão a uma entidade ou dispositivo de natureza dúbia.
- Amanda. Ex-presidente da câmara e a mulher mais importante de Defiance tornou-se agora a gerente do bordel anteriormente da irmã, ocasionalmente conselheira aos ocupantes da cidade, e toxicodependente de uma droga extraterrestre nos tempos livres.
- Rafe. O anterior motor da prosperidade e um dos pratos na balança de poderes da cidade, viu-se usurpado das minas que controlava e tornou-se uma personagem irrelevante. Que desperdício.
- Kenya. Ausente.
- Yewll. A médica e cientista da cidade, detentora de uma língua mais afiada que os seus bisturis, e de um passado tenebroso, vê-se nesta nova temporada relegada a essencialmente papel de parede, sendo utilizada somente quando argumentistas necessitam de alguém com aptidões científicas. O único desenvolvimento que viu foi a revelação inconsequente da sua orientação sexual.
- Tommy. ex-interesse romântico de Irisa, é agora apenas um personagem que me irrita profundamente sempre que aparece.
- Niles. Nova personagem. O novo governante da cidade. Zero carisma. Péssima escolha de actor e fraca contribuição para a série no seu todo. Era preferível terem escolhido William Atherton, que desempenha o seu superior hierárquico, para o papel.
- Berlin. Nova personagem. Não é má de todo, mas irrelevante. Quando não aparece esqueço-me completamente que ela existe.
- Os Tarr. O único grupo de personagens que cresceu ou manteve a sua relevância na série. Datak manteve o seu peso relativo. Apesar de as coisas serem agora bastante diferentes, a sua personagem continua a ser interessante de seguir, não fosse ela estar tão intimamente ligada à principal força positiva da segunda temporada. O mesmo se pode afirmar relativamente a Alak e Christie Tarr, que apesar de se manterem ainda personagens menores, tiveram mesmo assim uma evolução positiva. E claro a principal razão, senão mesmo a única, pela qual ainda sigo esta série - Stahma Tarr, protagonizada pela estonteante Jaime Murray.
Se Stahma era já uma personagem fascinante na primeira temporada, nesta é uma autêntica força da natureza, continuando a emanar charme e sensualidade, que associada à sua inteligência, capacidade manipulativa e implacabilidade, a tornam numa das mais formidáveis personagens femininas da televisão. Semana após semana, encontro-me agarrado ao ecrã da tv para beber daquele sorriso desarmante que por trás de pretensa humildade e submissão esconde uma mente a planear mil maneiras de lixar a vida a quem quer que se atravesse no seu caminho.
O peso relativo da Stahma na minha apreciação global da temporada é tão grande, que se a removêssemos dos episódios, já teria deixado de a acompanhar há algum tempo atrás. Será que a série consegue sobreviver apenas à custa de uma só personagem? Tenho sérias dúvidas. Penso que a decepção tem sido generalizada considerando os valores de audiência que têm vindo a decair regularmente. Se aliarmos a isto os custos de produção que não são baratos (foi a série mais cara de sempre da Syfy, com um investimento de 100 milhões de dólares distribuídos também pela produção do videojogo com o mesmo nome), não me surpreenderia verificar o seu cancelamento no final desta temporada. Ou talvez o investimento já feito seja a salvação da série. Vamos a ver.
Continuo a pensar que Defiance tem um enorme potencial de histórias por contar, mas tem que se apressar em concretizá-lo e inverter o marasmo actual. Urgentemente.
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
The Square
Mais um excelente filme vindo das antípodas, uma agradável surpresa pois nunca tinha ouvido falar dele. Escrito por Joel Edgerton, actor agora sobejamente reconhecido pelos seus papéis em filmes como Animal Kingdom, Warrior e The Great Gatsby, e que também desempenha aqui um papel secundário mas memorável, junta-se o irmão Nash Edgerton que aqui se estreia como realizador numa longa metragem.
Argumento: Ray (David Roberts) é um respeitado capataz de construção civil que mantém um caso extra-conjugal com uma vizinha (Claire van der Boom) cujo marido (Anthony Hayes) é um criminoso violento. Um dia ela vê o marido a esconder uma grande quantidade de dinheiro em casa, o que vai estimular os dois amantes a engendrar um plano para finalmente fugirem juntos com um respeitável pé-de-meia. No entanto o destino parece conspirar contra eles quando uma série de infelizes acasos, leva a que o plano desencadeie um espiral crescente de perigo e tragédia que parece não ter fim.
Gostei:
- A verosimilhança do argumento. Nada do que ocorre é completamente descabido, pelo menos que me tenha apercebido, sendo perfeitamente possível a sua ocorrência apesar da infelicidade desses eventos.
- O ritmo propositadamente lento imposto pela realização que consegue dessa forma acentuar e prolongar a crescente tensão do protagonista preso numa rede de intriga e perigo, a qual é cada vez mais difícil de discernir e escapar.
- A capacidade de surpresa e decepção (no bom sentido) através de eficazes sugestões de linhas de história, como por exemplo os cães dos protagonistas.
- Bom desempenho dos actores em papéis sóbrios que contribuem, em combinação com o argumento, para a credibilidade dos eventos.
Recomendação:
Supostamente este filme terá já edição dvd em Portugal, embora nunca o tenha visto à venda em lado nenhum. Para aqueles com acesso aos canais TVCine, penso que esteja em rotação na programação com o título 'Um Caso Arriscado'. Para os piratas entre vós nada mais necessitam saber excepto - não percam este filme.
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Idas ao cinema 2014 - até agora
Esta a dar uma vista de olhos às minhas despesas anuais quando reparei num valor que me chamou a atenção - despesas com cinema. Era um valor anormalmente elevado relativamente a outros anos. De facto, era quase o dobro de outros anos desde que comecei a manter um registo de todas as minhas despesas. Fiz uma pesquisa na net de todos os filmes estreados em Portugal este ano, e realmente confirma-se. Fartei-me de ir ao cinema este ano.
33 idas a uma sala de cinema. Isto dá uma média de uma ida ao cinema uma vez por semana. De facto, lembro-me de algumas ocasiões em que fui duas vezes na mesma semana, coisa que não ocorria há bastante tempo. E a razão para esta assiduidade? A resposta que me ocorre após ver a lista de filmes, é que 2014 tem sido um bom ano para mim no que diz respeito às minhas escolhas.
Geralmente, quando vou ao cinema e tenho uma boa experiência com o filme escolhido, tenho uma propensão a voltar mais rapidamente. O inverso também se verifica. O que significa que 2014 até agora tem sido bem preenchido de escolhas felizes.
Eis a lista de filmes até à data:
Gostei
American Hustle
Dallas Buyers Club
All Is Lost
Her
Lone Survivor
August: Osage County
Fruitvale Station
The Attack
Non-Stop
The Congress
Wadjda
Captain America: The Winter Soldier
What Maisie Knew
Under the Skin
Neighbors
Godzilla
Blue Ruin
Edge of Tomorrow
Only Lovers Left Alive
Enemy
Dawn of the Planet of the Apes
Snowpiercer
Kvinden i buret
Assim Assim
Vampire Academy
Prince Avalanche
Joe
The Fault in Our Stars
Guardians Of The Galaxy
Night Moves
Não Gostei
Jack Ryan: Shadow Recruit
Divergent
The Grand Budapest Hotel
And So It Goes
De um total de 33, aproximadamente 70% valeram bem a pena, o que é uma percentagem invulgarmente elevada. Há nesse grupo um ou outro filme que possivelmente mereciam estar um pouco mais abaixo. Por exemplo o Lone Survivor, que sinceramente vale pela forma como a acção foi capturada, e Kvinden i buret pela história. Ainda neste grupo vale a pena referir dois pontos:
1. Geralmente num ano, vejo um ou dois blockbusters que gosto. Não me refiro a todos os filmes com uma distribuição em larga escala, pois esses são mais. Estou a falar especificamente de filmes espectáculo dirigidos ao grande público. Até agora, e ainda com filmes como o Maze Runner, Fury, Interstellar, Hunger Games e Exodus por estrear, foram já 4 os filmes desse tipo que me agradaram bastante.
2. Esta percentagem poderia eventualmente ser ainda maior porque deixei passar alguns filmes que poderiam se calhar cair nesta categoria. Estou a lembrar-me de 12 Years A Slave, Locke e The Zero Theorem.
Entre o bom e o mau estão 18% dos filmes. Aqui também alguns filmes poderiam facilmente pertencer a outros grupos. Vampire Academy mantém-se neste grupo devido exclusivamente à Zoey Deutch que consegue salvar o filme de um aborrecimento total. Guardians of the Galaxy sofre provavelmente pelo meu conhecimento prévio do material e pelas expectativas irrealistas criadas antes de o visionar. E Night Moves poderia talvez subir de classificação se não fosse um final que simplesmente detestei.
Restam os arrependimentos. Aqueles filmes que saímos da sala a desejar voltar atrás no tempo e poupar o dinheiro gasto no bilhete. Representam 12%. Na realidade, deveria representar uma percentagem ainda menor pois já estava à espera de uma decepção quando fui ver o filme com o Michael Douglas este Verão.
Será que chego aos 52 filmes num ano? Faltam 19 em quatro meses. Provavelmente não, mas de qualquer forma 2014 é já um ano bastante positivo.
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Munich
"There is no peace at the end of this."
À medida que o mundo assiste a mais uma sangria no Médio Oriente, dei comigo à procura deste filme no meu escaparate de dvds para o revisitar. Existem outros filmes, porventura mais isentos e equilibrados que Munich no que diz respeito à complexa temática das relações Israelo-Palestinianas, mas poucos ou nenhum terá a qualidade do que é muito possivelmente o melhor filme de Spielberg.
Munich pode ser ocasionalmente tendencioso, o que acaba por ser perfeitamente compreensível e dificil de evitar se considerarmos a fonte do mesmo, mas esforça-se claramente em não demonizar apenas uma das partes deste conflito, e tem como sua maior virtude representar uma crítica tímida mas eficaz à política de olho por olho que serve apenas para alimentar um ciclo de violência sem fim à vista, resultando num aumento do extremismo e radicalização de posições, bem como na institucionalização do ódio e intolerância por ambas as partes.
Se nunca o viram, façam um favor a vocês mesmos e visionem esta obra prima de um mestre do cinema. E se já o fizeram, revejam-no pois os eventos trágicos a que temos vindo a assistir nas últimas semanas tornam-no particularmente relevante e oportuno.
Argumento: Após o massacre dos 11 atletas Israelitas durante os Jogos Olímpicos de Munique de 1972, é tomada a decisão em Israel de perseguir e assassinar da forma mais mediática possível, os suspeitos de estarem por trás do evento. Forma-se assim um grupo composto por 5 agentes da Mossad (desempenhados por Eric Bana, Daniel Craig, Ciarán Hinds, Mathieu Kassovitz e Hans Zischler), que em total clandestinidade e em diversos países, perseguem durante muito tempo os seus alvos, com diversos graus de sucesso, mas sempre com elevado custo, não apenas financeiramente, mas sobretudo na sua humanidade.
Gostei: De tudo, mas aponto alguns pontos altos.
- A personagem desempenhada por Ciarán Hinds, funcionando ocasionalmente como a voz da consciência.
- A divisão dos eventos de Munique em flashbacks inseridos ao longo do filme, na sua maioria funciona muito bem, permitindo alternar e de alguma forma equilibrar tomadas de decisão e acções. É fácil repreender a violência como resposta a violência quando não observada de perto, mas mais difícil quando a brutalidade é experimentada mais intimamente.
- O efeito erosivo que a missão têm sobre o grupo, principalmente do ponto de vista moral e psicológico.
- Toda a sequência do atentado em Paris, impecável na tensão gerada.
- Há um momento que adorei, durante a reunião inicial entre a personagem da Golda Meir e restantes membros das forças armadas e secreta, quando ela questiona a sala sobre a legitimidade do que estão a planear, obtendo apenas silêncio como resposta.
- Do espiríto geral do filme.
- O pormenor da imagem das Twins Towers no final do filme fazendo a ligação com o conteúdo da discussão dos protagonistas.
Não Gostei:
- Isto é um pormenor de somenos importância, mas a inserção do último flashback do massacre de Munique foi um pouco infeliz onde foi colocado. A meu ver, teria resultado melhor mais tarde no filme, ou talvez a finalizar o mesmo.
- A nudez na única morte de uma personagem feminina. Não me incomodou e considero ter sido eficaz no contexto da história, mas consigo entender que possa ser interpretado como misoginista aos olhos de alguns.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Robin Williams e o Estranho Mundo de Garp
O falecimento de Robin Williams foi particularmente doloroso para os amantes do cinema um pouco por todo o mundo, não só pela perda de um talento com uma carreira invejável que ainda tinha muito para oferecer, mas especialmente pelas circunstâncias da sua morte. Um pouco por todo o lado multiplicaram-se as manifestações de dor e choque relativamente a um artista que ficará para sempre associado à comédia e boa-disposição.
Na semana passada, estava na cavaqueira com alguns colegas de trabalho precisamente a falar sobre este assunto quando um deles menciona que de futuro provavelmente nunca conseguiria voltar a ver alguns filmes dele com o mesmo espírito. Que de alguma forma, as circunstâncias da sua morte lançariam sempre uma sombra sempre que ele visionasse determinados filmes dele. Disse-lhe que estava a exagerar. Que sim, que enquanto a notícia estava fresca na nossa mente, seria possível que isso ensombrasse a experência de rever um filme dele, mas que com o tempo isso se desvaneceria. E portanto, embora o impulso para o fazer fosse grande, abstive-me também eu de rever qualquer filme dele...até ontem.
Após consultar a lista de filmes que tinha com ele (um generoso total de 12), acabei por me decidir por um filme que já não revia desde os anos 80. Eram tempos mais simples em que os videoclubes começavam a surgir ainda de forma 'underground' e não perfeitamente legais, em que cada cassete VHS que traziamos para casa era uma incógnita pois também não existia IMDb, e a palavra gigabyte era um termo quase alienígena que dificilmente sugeria uma associação ao pagamento de um imposto. Lá me pus à procura dele nas estantes de dvds. Ainda demorei cerca de 15-20 minutos à procura porque estava na secção de dvds ainda por visionar, o que significa que não estava ordenado de nenhuma forma. Mas encontrei-o, ainda envolto em plástico e com a etiqueta de preço a indicar 7.99€
The World According to Garp é um filme que não se enquadra exactamente no género que concederia ao actor o reconhecimento universal, mas que encaixa perfeitamente no estado de espírito na base da decisão de rever um filme dele. Primeiro, porque foi a minha introdução ao Robin Williams, o primeiro filme que vi com ele como protagonista. Segundo, porque se depois decidisse escrever ou recomendar no blogue algum filme dele, porque não um que fosse relativamente mal conhecido. De facto, ninguém do meu círculo de amizades alguma vez o viu. E terceiro, porque é um filme perfeito para celebrar a vida do actor, pois trata ele próprio da celebração da vida. O filme baseado num romance de John Irving tem tudo - amor, ódio, traição, perdão, família, violência, humor, tragédia, sexo e morte. Como a mãe de Garp lhe diz no filme, todas as pessoas morrem. O importante é vivermos a vida antes de morrermos. Acho que Robin Williams o conseguiu.
Argumento: O filme é uma crónica da vida de T.S. Garp (Robin Williams), desde a sua concepção em circunstâncias muito pouco ortodoxas, infância e adolescência sob a alçada da sua mãe solteira (Glenn Close) enfermeira de profissão, até à maioridade como escritor de renome e extremoso pai de família, mantendo-se no entanto sempre na sombra do sucesso mediático da sua mãe que entretanto se torna uma figura de culto socio-político de movimentos feministas.
Confesso que estava um pouco receoso de que o filme não tivesse resistido bem ao tempo. Já não o via há imenso tempo, mas os meus receios viram-se infundados. Voltou a ser um prazer enorme visionar esta obra. O Robin Williams está bem, num papel que embora muito sólido não faria talvez adivinhar o percurso posterior do actor. A Mary Beth Hurt que desempenha o papel da esposa parece não ter tido a mesma sorte, sendo este talvez o ponto alto da sua carreira. O filme conseguiu duas nomeações para os oscares - A Glenn Close para actriz secundária logo na sua primeira longa metragem, e John Lithgow para actor secundário no papel de ex-jogador de futebol profissional transsexual.
O filme não teve muito sucesso, quer crítico quer comercial, mas na minha opinião vale bem a pena ver. É um filme inesquecível, principalmente pelo argumento, uma boa adaptação do romance original.
Recomendação:
Recomendação:
Curiosidades: O autor do romance John Irving tem um pequeno papel no filme como árbitro durante o torneio de luta livre. Este foi o antepenúltimo filme de George Roy Hill, conhecido por filmes como Butch Cassidy and the Sundance Kid e The Sting. Viria ainda a realizar o relevante The Little Drummer Girl antes de se retirar da realização e dedicar-se ao ensino. Morreu em 2002 devido a complicações da Doença de Parkinson, a mesma que estará na origem do suicídio de Robin Williams.
Para acabar, não posso deixar de mencionar que apesar de ter tido um enorme prazer em rever este filme, e de ter conseguido durante o seu visionamento abstrair-me da morte recente do actor, dei por mim tocado por uma onda de tristeza completamente inesperada, quando durante os créditos finais toca a música dos Beatles 'When I'm Sixty-Four'. Robin Williams tinha 63.
1951 - 2014 |
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
A Passagem
Apesar de este blogue focar essencialmente cinema e tv, decidi nesta nova versão incluir também recomendações de leitura, que infelizmente tenho a certeza irão ocorrer muito esporádicamente. Primeiro porque o tempo é cada vez mais limitado face a outras solicitações, e segundo porque de uma forma geral, sinto a necessidade, quando leio um romance, de o fazer de ponta a ponta com um mínimo de interrupções para optimizar a minha imersão no universo do livro , o que geralmente implica que ultimamente só o faço durante férias ou ocasionalmente num fim-de-semana prolongado.
Pois bem, nestas férias tirei quatro livros que estavam a ganhar teias de aranha na prateleira há já algum tempo juntamente com dezenas de outros. Um deles agradou-me o bastante para recomendá-lo aqui.
Sinopse: "uma grandiosa epopeia pós-apocalíptica. Uma experiência científica a que o exército dos Estados Unidos submete vários homens e uma menina, para os tornar invencíveis, resulta numa catástrofe cujos efeitos têm consequências inimagináveis. Os homens submetidos àquela experiência tornam-se detentores de extraordinários poderes, mas são monstros assassinos sedentos de sangue." - retirado do site da Editorial Presença
A acção decorre em dois períodos distintos do tempo: um período antes do apocalipse ocorrer, em que assistimos à origem do mesmo pela mão humana, e um período futuro pós-apocalíptico onde uma comunidade isolada tenta desesperadamente sobreviver à extinção num mundo onde a escuridão é sinónimo de morte, ou pior.
O livro é uma mescla de fantasia, devido aos seus elementos de mitologia de vampiros que são usados para dar corpo aos monstros da história, mas também de ficção científica, mais pela mentalidade da obra em si do que pela plausibilidade da ciência, que de qualquer das formas nunca é muito elaborada.
Pode à primeira vista parecer apenas mais outro livro de vampiros a tentar faturar a moda, juntando-lhe uma pitada de vírus para o distinguir da concorrência, o que até nem seria original, mas o facto é que achei o livro bem escrito, com personagens vívidas e um universo muito bem delineado, e uma história sólida e emocionante que me colou às suas páginas até o terminar.
Uma coisa que pensei enquanto lia o livro é que daria uma excelente série de tv. O primeiro volume daria perfeitamente para duas ou três temporadas completas de episódios. Parece que isso não irá acontecer mas para aqueles que não lêem livros, existe esperança pois os direitos cinematográficos foram adquiridos pela Fox 2000 e Ridley Scott's Scott Free Productions por 1.75 milhões de dólares. Nada mau para uma história que nasceu de uma ideia da filha de 10 anos do autor. Pronto, lá consegui transformar este post em algo relacionado com cinema.
A Passagem, do original 'The Passage' de Justin Cronin, é o primeiro volume (dividido em dois volumes em Portugal) de uma trilogia, da qual a segunda parte intitulada Os Doze já foi também editada pela Presença, e o maior elogio que posso fazer à Passagem é que mal acabei de o ler, desloquei-me à Fnac para comprar Os Doze, que sabe-se lá quando terei oportunidade de o ler.
O terceiro volume terá o título original The City of Mirrors mas ainda não foi publicado, estando prevista essa publicação somente para 2015.
Guardians of the Galaxy - razões para uma decepção
Guardians of the Galaxy é um filme estranho da Marvel. Não pela estranheza das suas personagens, mas sim pela dualidade de reacções que me provocou, quer do ponto de vista puramente cinemático, quer do ponto de vista de fã e leitor do material original. Talvez seja essa a principal causa do meu incómodo com o filme. É que de todos os filmes da Marvel Studios que vi - Iron Man, Thor, Captain America: The First Avenger, The Avengers, Iron Man 3, Thor: The Dark World, Captain America: The Winter Soldier - este foi o primeiro que independentemente da qualidade geral e das falhas, me deixou exasperado quanto a alguns aspectos da adaptação do material original para o universo cinemático. Obviamente que são sempre necessárias alterações quando se adapta material de um meio tão diferente para outro como o são a banda desenhada e cinema, mas até agora, se houve algo que distinguisse pela positiva as adaptações da Marvel por ela própria e não por terceiros, foi o extremo cuidado que tiveram em manter a essência, a alma se quiserem, das suas personagens e entidades fictícias. Não digo que isso não foi conseguido em parte com os Guardiões, mas houve coisas que falharam.
Não é que tenha detestado o filme, nem tão pouco me tenha aborrecido durante o seu visionamento. É um filme blockbuster típico de Verão - ligeiro na mente, pesado na acção - e que espalha boa disposição, e no entanto não consigo sacudir a sensação de profunda desilusão com ele. Isto apesar de alguns elementos que admito terem sido bem conseguidos no filme. Porquê?
Altas expectativas goradas:
Um dos factores que contribuiu para essa sensação foi certamente a enorme expectativa criada pela crítica, que um pouco por todo o lado dispensava e continua a dispensar de forma quase unânime superlativos ao filme, que muito sinceramente me parecem completamente imerecidos. Desde declarações que o filme era um novo Star Wars para uma nova geração, sobre o brilhantismo das sequências de acção e batalhas espaciais, até à inteligência do humor, enfim, era tudo perfeito e excelente, e o filme seria um novo marco na história do cinema. Claro que nada disso se verifica efectivamente e portanto é inevitável a decepção.
Falhas inerentes ao filme em si (e pormenores que me irritaram um pouco como leitor Marvel):
- Clímax emocional precoce. A sequência mais bem conseguida em termos emocionais de todo o filme, ocorre nos primeiros minutos. Quando a vi pensei cá para mim, isto realmente promete se já consegue mexer comigo tão cedo. Infelizmente, no restante filme nada chega sequer perto desse nível..
- Antagonista pouco definido ou fraco. Esta tem sido uma falha sistematicamente apontada aos filmes da Marvel e com vários graus de razão. Mas em Guardians atinge o cúmulo. Alguém consegue explicar a motivação do vilão principal Ronan? É dito que pretende sabotar um acordo de paz, mas porquê? Em nenhuma altura me lembro de ver algo que explicasse o seu ódio. Não há nada que defina a sua personagem para além do seu visual. Absolutamente nada. É como se argumentistas, realizador e produtores nem sequer se ralaram com isso. O único antagonista que consegue transmitir alguma forma de empatia ou reconhecimento motivacional é a personagem Nebula desempenhada por Karen Gillan, que praticamente não é utilizada no filme infelizmente.
- O humor. Isto foi essencialmente um problema causado pelas expectativas criadas. Como já tinha dito, é um filme bem disposto, que frequentemente conseguiu arrancar um sorriso deste espectador, mas raramente uma gargalhada. Lembro-me de rir mais e com mais vontade noutros filmes da Marvel que não foram laureados como o apogeu da comédia como aconteceu com este Guardians. Para ser sincero, metade das vezes sentia que o filme estava a tentar demasiado ser engraçado sem o resultado esperado.
- Sequências de acção. Achei-as pouco inspiradas. Não me consigo lembrar de nenhuma que tenha ficado retida na memória pela positiva. O inverso pelo contrário já não é verdade. Tomemos como exemplo o ataque da nave Kree de Ronan ao planeta Xandar e a tentativa dos Nova de evitar a aterragem. Serei eu o único que ao ver a cena a desenrolar-se, com diversas naves Nova a interligar-se para formar uma rede pensou o quão rídicula ela parece na versão final? E nem sequer foi original, pois semelhante manobra pode ser vista em episódios da série Star Trek com melhores resultados. Será que não havia ninguém durante ainda a fase de storyboarding que visse que aquilo não ia funcionar visualmente?
- E já que mencionei essa cena, sou eu o único a achar esquisito que numa nave de batalha Kree, só apareça um Kree - Ronan? Korath é também Kree nos comics, mas acho que não o é no filme, ou pelo menos não tem concerteza aspecto disso. Todos os outros elementos são de uma raça diferente. É pelo menos bizarro, se pensarmos que Ronan é supostamente um zelota Kree no filme.
- Gamora. The deadliest woman in the galaxy. Tradução - a mulher mais perigosa da galáxia. É assim descrita nos comics. Alguém ficou com essa sensação da Gamora do filme? Pois é, eu também não. É talvez a maior desilusão do filme, embora reconheça que grande parte se deve ao meu conhecimento prévio da personagem. Mas mesmo assim, se analisarmos puramente com base no filme, a personagem feminina do grupo é sem dúvida a menos conseguida. Todos os outros elementos da equipa (e aqui tenho que admitir que as adaptações de Star-Lord, Groot, Rocket e Drax foram moderadamente ou muito bem obtidas) têm arcos. Nós vemos a sua transformação, apesar de acelerada, de X para Y no decorrer do filme. Todos menos Gamora. Quando o grupo de reúne, ela já teve a sua epifania moral. Ela já não é a assassina implacável que lhe granjeou a fama (ou infâmia), vendo-se a personagem roubada dessa evolução no écran. Gamora acaba por se ver um pouco limitada a interesse romântico do líder do grupo o que sabe manifestamente a pouco, apesar de acabar por ter a melhor linha de diálogo de todo o filme.
- Nova Corps. É sem dúvida o maior desvio relativamente ao material original e pela negativa. O filme menciona um Império que não existe na BD. No universo original, Nova Corps é uma organização policial/militar de protecção do planeta Xandar e sua civilização. Não existe nenhum império intergalactico associado. Mas pior que isso é a forma como os seus elementos são retratados em filme como vulgares policiais sem poderes especiais. A versão do filme é bastante mais pobre. Não consigo deixar de imaginar a cena do confronto final no planeta Xandar que já mencionei anteriormente com a utilização dos Nova como nos comics, e como resultaria muito melhor, mesmo se insistissem na cena da rede.
E para piorar as coisas, como é que um bando de piratas espaciais parece mais formidável e melhor equipado que um império que supostamente rivaliza com uma das maiores potências na galáxia? Faz algum sentido? A Glenn Close é que deve estar bastante satisfeita por receber provavelmente um cheque chorudo por não fazer virtuamente nada.
- Infinity Stones. Alguém consegue explicar os que elas são, baseando-se simplesmente pelos filmes? Eu sei que finalmente neste, o quarto filme em que elas desempenham um papel de relevo no argumento, é-nos oferecida uma explicação e história das mesmas, mas juro que é a mais acelerada e trapalhona exposição na história do cinema. Tão rápida é que não consegui captar metade do que foi dito, e muito menos assimilar qualquer conteúdo inteligível (tive que pesquisar na net para descortinar a explicação dada, que na realidade oferece muito pouco, o que talvez explique a razão da velocidade imprimida no filme, como que propositadamente de forma a evitar que os espectadores pensem naquilo que estão a ver). E tenho a vantagem de pelo menos saber o que elas são e quais os seus poderes no universo original. O que me leva a outra pequena irritação. Já apareceram 3 Infinity Stones e não consigo identificar nenhuma de forma clara e objectiva com base nos seus poderes nos filmes, com excepção talvez do Aether em Thor: The Dark World, mas que no entanto é contrariado por declarações do Kevin Feige, produtor da Marvel.
Enfim, no final desta parede de texto, não quero que pensem que Guardians of the Galaxy é um filme horrível, porque não é esse o caso. Simplesmente não é a obra-prima como quase todos parecem querer vender.
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