Não tenho qualquer dúvida sobre qual a minha série de televisão preferida de todos os tempos. Gostei de imensas ao longo da minha vida, e actualmente a televisão atravessa um período dourado contando com inumeras produções de alta qualidade, tantas que acompanhar as mesmas retira-me imenso tempo do visionamento de filmes. Atrevo-me mesmo dizer que a creatividade e inovação é neste momento mais forte nesta área do que no cinema, por incrível que isso pareça. Mas existe uma série com um lugar muito especial no meu coração e como podem adivinhar estou a falar dos Ficheiros Secretos, nomeadmente das primeiras 7 temporadas, ou seja, durante a permanência da dupla icónica de agentes do FBI Mulder and Scully.
Cada episódio era um ritual quase religioso à frente da tv e do gravador de VHS. Sim, eu gravava todos os episódios que iam para o ar e não pensem que simplesmente punha aquilo a gravar. Não eu retirava os intervalos da publicidade. Já não me lembro em que dias da semana iam para o ar os episódios, mas era dia santo. Nesse noite, não se faziam quaisquer planos. Era casa, sofá, mão no comando do videogravador ansiosamente à frente da tv para não perder pitada. Lembro-me perfeitamente de uma vez que não podia estar em casa e massacrei de tal forma a cabeça da minha irmã para me gravar o respectivo episódio que tive receio pela sua sanidade mental, ou que ela se vingasse e sabotasse a gravação, tão insistentes e exigentes eram os meus pedidos.
Foi apenas a segunda série de televisão que gravei em VHS (a primeira foi o Twin Peaks) e a única a sobreviver até se ver suplantada pelo formato DVD. Sim tenho as primeiras 7 temporadas em DVD.
Ao todo já devo ter visto e revisto toda a série umas 4 ou 5 vezes. Nenhuma outra se compara em número de visualizações.
Não vos sei dizer as razões objectivas para a popularidade da série. Certamente que as teorias de conspiração e OVNIs tinham o seu fascínio, mas dificilmente seriam razão para o fenómeno de culto em que a série se tornou. Para mim, seria uma mescla de factores. Um dos principais consiste na melhor dupla de personagens na história da tv exibindo uma, senão mesmo a melhor, relação pessoal/profissional alguma vez vista no pequeno ecrã. De facto sem Mulder e Scully a série nunca mais foi a mesma nas duas últimas temporadas. Depois há também o sentido de humor que desde início fez parte do código genético da série, mesmo nos episódios considerados sérios. E finalmente a escrita. Ainda hoje não consigo deixar de admirar a sensação que fica depois de visionar um episódio típico de 40 minutos, mas que parece conter mais história e desenvolvimento de personagens do que muitos filmes com o dobro e triplo de duração.
Obviamente quando foi anunciado o regresso da série pelas mãos do criador original Chris Carter e das duas estrelas principais David Duchovny e Gillian Anderson, as expectativas não podiam senão ser elevadas. Os ingredientes principais para a popularidade de série estavam de volta. E a realidade? Correspondeu às expectativas?
Com apenas 6 episódios previstos, e com metade deles já visionados, a coisa não parece promissora. Os primeiro episódio escrito e realizado pelo próprio Chris Carter foi uma decepção, seguido de um segundo melhorzito mas ainda assim muito longe do brilhantismo de outros tempos. O Duchovny/Mulder parece cansado como se preferisse estar noutro sítio qualquer. Vi ontem o terceiro episódio "Mulder and Scully Meet the Were-Monster", e de repente vi-me transportado atrás no tempo 20 anos. Com o humor de volta, este sentiu-se como se estivessemos na época aurea da série. Até a Scully parece ecoar o meu pensamento quando afirma em determinada altura "Yeah. This is how I like my Mulder." Mas a realidade é que provavelmente será o único episódio a atingir este nível de qualidade, porque os dois últimos foram escritos e realizados novamente pelo Chris Carter que tão fraco desempenho teve no episódio de estreia. Este terceiro episódio manteve a chama acesa. Espero que os restantes não a apaguem completamente.